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Convicções
Aqui deixo um testemunho forte de alguém que acredita em Portugal
Reabriu ontem o §speram’entrando dando assim início à animação nocturna em 2006 na Zambujeira-do-Mar.
“O lixo de um homem é o tesouro de doutro“
Ao partir desta ideia, expressa pelo Francisco (Sargo Jr), o Sargo e a sua equipa deram asas a uma velha cadeira e, a partir daí, seguiram em frente para uma redecoração jovem e descontraída mas, simultaneamente, quente e acolhedora como é hábito nesta casa.
Com um excelente ambiente musical a cargo dos Goma Kolective, clientes e amigos compareceram para um reencontro esperado, e deram uma força extra para mais uma temporada de trabalho e animação nocturna a cargo desta casa e que constitui um polo de atracção, há já muitos anos, deste Concelho.
O velho e o novo, a taipa e o techno, interligando-se na projecção de novas linhas e rumos, com projectos consistentes e duradouros para o desenvolvimento desta costa.
Um dos passeios mais espectaculares que se pode fazer nesta costa leva-nos até à zona da praia dos Machados. Aí as arribas envolventes e que se prolongam sempre mais para sul, são como verdadeiros castelos a que não faltam gárgulas perscrutando o horizonte longínquo, como guardiãs eternas destes lugares e dos tesouros naturais que encerram.
Nas ilhotas de pedra, quais naus ancoradas em enseadas escondidas e onde os cestos da gávea são os ninhos das cegonhas, os seus ocupantes permanecem devidamente atentos a tudo o que os rodeia.
Realiza-se amanhã, dia 11, mais uma prova do campeonato de bodyboard na praia de Odeceixe. Para todos os amantes da modalidade, que é simplesmente fantástica, junto o cartaz promocional do evento.
Esperam-se boas ondas dentro e fora da água com a ajuda de várias bandas e D.J.’s, tais como os Abandalhados, Punani sound System, K.M.C e S.S.A. (hip-hop) e ainda os Original electro Groove (ska/reggae).
Apareçam e divirtam-se
À saída de Odemira para Beja, situado num cabeço e dominando toda a vila, ergue-se um moinho de vento que continua a funcionar e está aberto ao público.
Graças ao apoio da Câmara de Odemira foi recuperado e, mesmo ao lado de um outro que ficou como imagem de contraste devido aos sinais do tempo que ostenta, este ex-libris da vila faz parte integrante da história do ciclo do pão.
Se o moleiro estiver disponível, pode-se pedir uma olhadela ao interior que pode ser acompanhada de uma explicação do seu funcionamento.
Pequenos pormenores ajudam ao funcionamento correcto do moinho e “cantam” ao vento enquanto as velas enfunadas permitem que o veio rode movendo a mó.
Marrocos
Nos mercados há algo de familiar
Os campos e as aldeias na montanha evocam paisagens em sonho visitadas
Imagens que perduram como parte de um filme que conhece nos dias de hoje outros desenvolvimentos, pondo em risco, aqui também, a paz e entendimento no mundo.
Na primeira segunda-feira de cada mês acontece o mercado de S. Teotónio. Da vila e montes vizinhos acorrem as pessoas à procura do que necessitam para a manutenção ou renovação das suas casas, hortas ou jardins.
Bens alimentares, como os legumes, queijos, enchidos, bacalhau, mel e fruta são também procurados enquanto se encontram amigos familiares e vizinhos, pondo-se em dia as conversas relativas ao que se passou durante o último mês.
Mais do que em qualquer outro lado, sente-se nestes mercados do sul de Portugal o legado das tradições árabes e, através de conversas centradas no conhecimento empírico dos acontecimentos a preservar, tais como as melhores datas para sementeiras, plantios e colheitas, passa-se o testemunho às novas gerações, cada vez mais interessadas neste regresso às origens.
A cerca de vinte anos de se esgotarem as reservas de combustíveis fósseis, leia-se petróleo, uma nova refinaria vai ser construída a poucas centenas de metros destes locais que aqui vos apresento ou relembro.
Será que tal empreendimento se justifica para cenário (sem) futuro terminando de vez com a beleza que, para já, ainda reina?
Não deixa de ser um sinal preocupante o facto de, apesar de serem locais emblemáticos que permanecem no imaginário das férias de muitos portugueses e estrangeiros, na actualidade continuarem sem a promoçao e manutençao adequadas ao que se publicita e vende, além dos acessos rodoviários à Costa Vicentina, que aqui começa e, até Odemira, estarem num estado de degradação e abandono visíveis há décadas e que permanecem uma ameaça a quem se aventura a embarcar nesta viagem.
Ó Portugal, se fosses só três sílabas, / linda vista para o mar, / Minho verde, Algarve de cal, / (…) ó Portugal se fosses só três sílabas / de plástico, que era mais barato
Alexandre O’Neill in Feira Cabisbaixa
Mas sonho… O mar é água, é água nua
Serva do obscuro ímpeto distante
Que, como a poesia, vem da lua
Que uma vez o abate outra o levanta.
Mas, por mais que descante
Sobre a ignorância natural do mar
Pressinto-o, vasante, a murmurar
Fernado Pessoa in Cancioneiro
Marcos de um passado recente
Hoje, dia das candeias, é apresentado neste espaço um testemunho de um passado, não muito distante, que nos revela o seu fim.
Nestes dias estas casas costumavam juntar homens e mulheres num presságio de primavera. Eles apanhavam e levavam o linho para elas fiarem, ficando todos juntos enquanto os fornos coziam o pão feito com a farinha trazida do moínho de água ali perto e, das arcas, se tirava a carne de porco para o jantar.
O abandono destes espaços deixa na paisagem um certo ar de irrealismo, de algo que parece vazio, mas que nos faz sentir a vida que aí brotava, que nos leva a querer parar no tempo de modo a poder compreender o que perdemos ou, pelo menos, não podemos já partilhar